Uma peça que se passa nas alturas, o tempo todo suspensa, segura por cabos, mas que ao mesmo tempo está tão rente ao chão que às vezes nem percebemos a literalidade que apresenta das contraposições de espaço.
Sobre um andaime, limpando vidraças de prédios, estão Claudionor e Mário, duas figuras caricatas, que lembram de certo modo as construções de tipos da era do rádio; algo comum no trabalho do jornalista e dramaturgo Sérgio Roveri. Os personagens dialogam entre si, e triangulam com a plateia assuntos do seu dia a dia, suas frustrações, seus medos em relação ao futuro, e o que quer que possa ser discutido a metros e metros do chão.
De maneira leve e divertida, Elias Andreato e Claudio Fontana retornam para seus papéis, dez anos depois, e guiados pela direção do próprio Elias, retiram imensas gargalhadas, às vezes frenéticas, às vezes singelas do público. O timing da comédia por hora tem algum pequeno desatino, mas em nada compromete o espetáculo que tem um humor seguro, tão seguro quanto o andaime, suspenso pelos cabos de aço.
A crítica da obra está na invisibilidade dos trabalhadores da manutenção, ela vem como um “sarcasmo dos excluídos", fato evidenciado em diversas cenas, mas em especial durante a ginástica, onde os dois colegas aproveitam uma aula, alongam-se e divertem-se, como se conhecessem a turma à anos, essa que está do outro lado da janela, e nunca deve ter notado a presença deles.
Um espetáculo bem amparado pela cenografia, entrega o que promete, e em 80 minutos faz o espectador questionar de que lado da janela ele está, e se de fato compreende a impotência da situação ao rir de uma piada com um imenso fundo de verdade.
Por: Isabel Branquinha
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