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Charmosa, Bebel Gilberto vai ao céu ao mesclar sua história com a bossa ainda nova de João

Atualizado: há 4 dias

Cantora encerra hoje temporada de show em que lança no Brasil álbum com canções de seu pai

Charmosa, Bebel Gilberto vai ao céu ao mesclar sua história com a bossa ainda nova de João
Imagem: Carolina Belizário

Resenha de show

Título: João

Artista: Bebel Gilberto

Local: Teatro Paulo Autran do Sesc Pinheiros (São Paulo, SP)

Data: 27 de setembro de 2024

Em cartaz até 29 de setembro

Cotação: **** (ÓTIMO)

 

João”, o disco em que Bebel Gilberto mergulhou na obra imortalizada por seu pai, um certo João Gilberto (1931-2019), ao longo das décadas de 1960 e 1970, fez emergir das sombras uma cantora interessante e antenada, que há muito parecia ausente da discografia desta cantora e compositora americana de vivência brasileira.

 

Sob a produção da própria artista ao lado do pianista norte americano Thomas Bartlett, “João” repôs Bebel Gilberto nos trilhos após aparecer podada em (bom) disco de teor romântico (“Tudo”, de 2014) e completamente apagada em “Agora” (2020), álbum em que expurgava o luto pela perda da mãe, Miúcha (1937-2018), e do pai, com a seleção menos inspirada de sua trajetória.

 

Mais solar e com arranjos que remetem a momentos áureos da produção da cantora, o álbum dedicado ao repertório do papa da bossa nova rendeu espetáculo tão inspirado quanto. “João”, o show que aportou no palco do Teatro Paulo Autran, dentro do Sesc Pinheiros, na última sexta-feira, 27, é a melhor produção da cantora em cena desde “Momento”, o inspirado show de 2007 que solidificou seu nome no mercado internacional.

 

Desde então, a artista voltou ao Brasil com produções que ou pecavam pelo excesso de descontração (“All in One”, de 2009), ou a mantinham tão engessada que havia pouco do charme habitual de suas apresentações (“Tudo”). Em “João”, contudo, a artista encontrou o ponto de equilíbrio correto.

 

Passeando pelo repertório que construiu ao longo de 23 anos de carreira internacional, Bebel mesclou alguns de seus hits com clássicos da música popular relacionadas ao repertório de seu pai. A abertura, ao som de “Adeus América”, deu a (falsa) pista de que se trataria de show relutante. Impressão dissipada já no número seguinte, “Desafinado”.

 

A gravação da cantora para uma das pedras fundamentais da Bossa Nova já havia surtido boa impressão no álbum, e cresceu com a temperatura do palco. Mas o primeiro grande momento do espetáculo foi “É Preciso Perdoar”, quando Gilberto foi ao céu em uma interpretação intimista e charmosa, injetando mise-en-scene interessante com a ajuda das projeções e de uma escada acoplada ao fundo do palco.

 

A cantora seguiu bem as marcas da direção de Talita Miranda, que, inteligente, soube como deixar a artista livre em cena. E foi justamente essa liberdade que deu o sabor de números envolventes, como “August Day Song” e “Simplesmente”, a bonita balada de seu (subestimado) segundo álbum de estúdio, “Bebel Gilberto” (2004).

 

Aliás, é justo dizer que a cantora tentou dar uma espécie de segunda chance ao álbum pouco ouvido no Brasil. Das 17 canções do espetáculo, quatro foram pescadas do disco, entre elas “Cada Beijo” e seu grande sucesso, “Aganjú”, o presente que ganhou de Carlinhos Brown e que transformou em um de seus carros-chefe.

 

Aganjú”, inclusive, foi um dos pontos altos do show graças a direção musical de Didi Gutman (à frente da ótima banda formada ainda por Bernardo Bosisio no violão e na guitarra e Dennis Bulhões, na bateria e percussão), que desconstruiu parte do arranjo original para alicerçar a canção num duo de piano e voz.

 

Mas nada, verdade seja dita, ainda conseguiu bater a estreia da cantora em disco com “Tanto Tempo”, o histórico álbum produzido pelo iugoslavo Suba (1961-1999), presente com sete canções no repertório.

 

Se a espontaneidade natural da cantora rendeu momentos engraçados (“fui dar um beijo na minha cachorra, na coxia”, disse ao sair de cena ao som de “So Nice”), sua concentração a levou à lua ao som de “Harvest Moon”, sua abordagem bossa novista da canção de Neil Young que foi o ponto mais alto de uma apresentação repleta de bons momentos.

 

Outra grande passagem foi o improviso ao som de “O Pato”, atendendo a um pedido da plateia. “Podemos cantar se você quiser, podemos cantar de tudo”, disse, simpática, sem, contudo, abrir mão do roteiro bem estruturado (um segundo pedido, de “Acabou Chorare”, foi prontamente ignorado).

 

Se a abordagem de “Os Novos Yorkinos”, uma de suas melhores canções, lançada em seu álbum “Momento”, surtiu pouco efeito, os sucessos “Mais Feliz” e “Preciso Dizer que te Amo”, levaram a plateia a um bonito coro espontâneo.

 

Preciso Dizer que te Amo”, inclusive, teve sua abordagem anabolizada pelo violão de Pedro Baby, que entrou em cena para encorpar outros hits como “Sem Contenção” e “Baby”.

 

Encerrando o show (antes do bis) ao som de “Samba da Bênção”, Bebel restabeleceu seu vínculo com o público de São Paulo em coro uníssono, como um feitio de oração. Mesmo com um bis menos afinado, ao som de uma interpretação mezzo-roqueira de “Bananeira”.

 

Descontados os mínimos tropeços, já característicos, o show “João” volta a elevar a cotação de Bebel Gilberto no mercado de shows do Brasil, com um dos melhores espetáculos de sua carreira, provando que segue como uma das cantoras mais interessantes da música brasileira, fazendo valer seu status de ícone internacional.

 

Confira o setlist completo da apresentação de 27 de setembro (sexta-feira):

 

1- Adeus América (Geraldo Jacques/ Haroldo Barbosa, 1948)

2- Desafinado (Antonio Carlos Jobim/ Newton Mendonça, 1959)

3- É Preciso Perdoar (Carlos Coquejo/ Alcyvando Luz, 1967)

4- August Day Song (Bebel Gilberto/ Nina Miranda/ Chris Frank, 2000)

5- Simplesmente (Bebel Gilberto/ Didi Gutman/ Marius de Vries, 2004)

6- Cada Beijo (Bebel Gilberto/ Guy Sigsworth, 2004)

7- Aganjú (Carlinhos Brown, 2003)

8- So Nice (Summer Samba) (Marcos Valle/ Paulo Sérgio Valle - versão: Neil Gutman, 1964) - citação: Un Homme et une Femme (Claude Lelouch, 1966)

9- Harvest Moon (Neil Young, 1992)

10- Mais Feliz (Bebel Gilberto/ Cazuza/ Dé Palmeira, 1986)

11- O Pato (Jayme Silva/ Neusa Teixeira, 1960)

12- Os Novos Yorkinos (Bebel Gilberto/ Didi Gutman/ Sabina Sciubba, 2007)

13- Sem Contenção (Bebel Gilberto/ G. Arling/ R. Cameron, 2000)

14- Preciso Dizer que te Amo (Bebel Gilberto/ Cazuza/ Dé Palmeira, 1986)

15- Baby (Caetano Veloso - versão: Rita Lee/ Arnaldo Baptista/ Sérgio Dias, 1969)

16- Samba da Bênção (Baden Powell/ Vinicius de Moraes, 1965)

 

BIS:

 

17- Bananeira (João Donato/ Gilberto Gil, 1975)

 

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