top of page

Olhos nos Olhos, um não musical

Dona Ana Lúcia Torre, despida de qualquer personagem e ovacionada pela plateia, entra em cena e logo de cara avisa que não estará só no palco do Teatro Santos Augusta, mas acompanhada do pianista Diógenes Junior, que além de tocar a trilha do espetáculo, fica responsável por não permitir que a atriz esqueça alguma fala. E começa um quase bate-papo com o público.


Olhos nos Olhos, um não musical
Imagem: De divulgação

Em qualquer informativo sobre a peça, vemos que está associada às letras de Chico Buarque, mas logo neste prólogo, temos a confirmação, que faz com que algumas pessoas na plateia soltem um suspiro de alívio - o monólogo não se trata de um musical. As Letras de Chico são recitadas e interpretadas no decorrer da peça. Com a leveza do diálogo entre atriz e plateia, o texto começa a sair não mais como conversa, mas como dramaturgia. E ainda que texto teatral, Teatro de uma realidade muito humana.


Ao comemorar em cena, seus 80 anos de vida (e 60 de carreira), Torre faz questão de levar seu olhar aos olhos de quem está ali sentado assistindo de forma tão respeitosa que faz com que cada um de nós nos sintamos íntimos da atriz, assim como muitos são íntimos da obra de Chico.


Ana Lúcia nos conta de seus amores e sua Liberdade, conta do início de sua carreira, de quando ainda era estudante de Ciências Sociais na PUC e integrou o elenco de Morte e Vida Severina, conta sobre sua passagem por Portugal e pela Noruega e de quando voltou para o Brasil, quando foi presa pela ditadura militar em um momento em que é praticamente impossível ficar com os olhos secos. Além disso, passa pelo Governo Collor, pela maternidade e pela semelhança e diferenças entre suas personagens e si mesma.


Ao ouvir a poesia de Chico sendo falada fora da canção, percebemos como a interpretação pode ser subjetiva. Após a peça, era possível ouvir pelo saguão do teatro as pessoas comentando sobre como era diferente sua percepção sobre a letra de uma música ou outra.


O cenário de André Cortez e a iluminação de Gabriele Souza conversam de forma tão integrada que deixam qualquer professor de física de queixo caído. Já o autor do texto e diretor da encenação, Sergio Módena, costura a biografia da atriz às letras de Chico de forma tão elegante, que temos um belíssimo e coeso espetáculo que nos dá vontade de levantar uma taça e brindar à Vida e à Arte da potência que é Ana Lúcia Torre.


bottom of page