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Solo “FERA” transforma episódio real em espetáculo poético no Sérgio Porto, no Rio

Inspirado em ataque sofrido pela filósofa Val Plumwood, espetáculo com Carolina Ferman tensiona os limites entre natureza e tecnologia, vida e morte, corpo e máquina

Solo “FERA” transforma episódio real em espetáculo poético no Sérgio Porto, no Rio
Imagem: Diego Baptista

O Espaço Cultural Sérgio Porto, no Rio de Janeiro, recebe a partir de 7 de agosto o solo “FERA”, protagonizado por Carolina Ferman e dirigido por Natasha Corbelino. Em cartaz até 31 de agosto, o espetáculo parte de um acontecimento real — o ataque de um crocodilo à filósofa australiana Val Plumwood no Parque Nacional de Kakadu — para mergulhar o espectador em uma experiência sensorial e simbólica sobre o instante limite entre a vida e a morte.


Inspirado livremente no livro O Olho do Crocodilo, escrito pela própria Plumwood, “FERA” transforma o breve olhar trocado entre presa e predador em um espaço-tempo dilatado, onde se entrelaçam corpo, voz, som e pensamento. A atriz divide a cena com uma caixa de som, que deixa de ser coadjuvante técnica e se torna personagem ativa em uma dramaturgia marcada pela fusão entre humano e máquina.


Um encontro selvagem, íntimo e filosófico


A gênese da peça surgiu durante o puerpério da atriz, em meio à leitura de Escute as Feras, de Natasha Martin. A busca por narrativas que falassem de transformações radicais levou Carolina até o texto de Val Plumwood e à vontade de encenar esse “encontro brutal com o selvagem”:


“Não é metáfora. É uma história real, um testemunho cru de vulnerabilidade e coragem. A transformação daquela mulher me capturou, e vi ecos disso na minha própria vivência como mãe naquele momento”, afirma a atriz.


Entre memória, delírio e lucidez, “FERA” propõe uma experiência cênica atravessada por urgências contemporâneas: a crise ecológica, o protagonismo feminino nas artes, a relação entre corpo e tecnologia e o resgate de vozes invisibilizadas na filosofia.


Corpo, som e tempo: uma coreografia entre artista e máquina


A caixa de som com a qual a atriz contracena executa uma faixa de 55 minutos contínuos, gravada previamente como base para a encenação. A partir do momento em que dá o play, a atriz deve encaixar sua partitura física, vocal e emocional com precisão dentro desse tempo fixo.


“Ela não para. É um outro corpo em cena, com quem estabeleço uma relação de escuta, tensão, afeto e dependência. Ao mesmo tempo em que oferece liberdade, também impõe limites”, diz Carolina.

Essa relação simbiótica entre a performer e o som revela um dos grandes temas do espetáculo: como sobreviver — e criar — em um mundo mediado por tecnologias cada vez mais presentes e invisíveis.


Arte feita por mulheres, com mulheres, sobre mulheres


“FERA” também é um grito de presença feminina. Escrito, dirigido e encenado por mulheres, o espetáculo reacende o pensamento ainda inédito no Brasil de Val Plumwood, uma das principais vozes do ecofeminismo contemporâneo. A montagem propõe repensar as formas como o ser humano se relaciona com a natureza — e como esse olhar hierárquico legitima opressões de gênero, raça e classe.

“O modo como tratamos a natureza espelha o modo como legitimamos outras opressões. O espetáculo não busca respostas, mas uma nova ética: híbrida, porosa, inevitável”, conclui Carolina Ferman.


SERVIÇO


FERA, com Carolina Ferman 

📍 Local: Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto – Rua Humaitá, 163 – Humaitá, Rio de Janeiro/RJ 

📆 Temporada: 07 a 31 de agosto de 2025 

🕐 Horários: Sextas e sábados às 19h | Domingos às 18h 

🎟️ Ingressos: R$ 40 (inteira) | R$ 20 (meia) 

🎭 Classificação indicativa: 18 anos 

Duração: 60 minutos 

Acessibilidade: espaço acessível 


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