“Projeto Clarice” reúne Clara Carvalho, Magali Biff, Mariana Muniz e Vera Zimmermann em adaptação de contos de Clarice Lispector
- Isabel Branquinha

- há 6 minutos
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Espetáculo dirigido por Cesar Ribeiro estreia no Teatro Cacilda Becker e revisita o universo feminino da autora sob uma ótica contemporânea

A força e a sensibilidade da escrita de Clarice Lispector ganham novas camadas em Projeto Clarice, espetáculo que estreia no Teatro Cacilda Becker, em São Paulo, no dia 16 de outubro, com sessões até 9 de novembro, de quinta a sábado às 20h30 e domingo às 19h.
Com direção e adaptação de Cesar Ribeiro, a montagem reúne as atrizes Clara Carvalho, Magali Biff, Mariana Muniz e Vera Zimmermann, que interpretam diferentes personagens inspiradas em cinco contos da autora: Via Crucis, Menino a Bico de Pena, A Legião Estrangeira, Amor e O Ovo e a Galinha.
O projeto é uma homenagem à literatura e à complexidade do feminino, abordando temas como subjetividade, identidade, alteridade, família e afetos.
O feminino sob o olhar de Clarice
Cada conto traduz uma dimensão da experiência feminina.
Via Crucis revisita a maternidade em tom de parábola;
Menino a Bico de Pena explora a relação entre mãe e filho pela ótica da alteridade;
A Legião Estrangeira investiga a formação da identidade;
Amor acompanha uma mulher em crise existencial no seio familiar;
O Ovo e a Galinha conclui o ciclo como metáfora sobre o mistério da criação e da consciência.
“Essas histórias falam de questões cotidianas a partir da epifania e do monólogo interior”, explica Cesar Ribeiro, que há anos desenvolve uma pesquisa sobre a violência e a sensibilidade no Brasil contemporâneo. Segundo o diretor, Projeto Clarice marca um novo momento de sua trajetória: “Queríamos criar uma estética da utopia, e não da distopia. É um olhar poético sobre a resistência e a transformação do feminino.”
Quatro atrizes, quatro corpos, um mesmo universo
O espetáculo aposta em atuações que transitam entre o realismo, o simbolismo e o extrarrealismo, com as quatro intérpretes se alternando entre papéis, vozes e presenças cênicas.
“A Ana que faço, do conto Amor, parte da rigidez de uma dona de casa para uma ruptura física e emocional intensa. Clarice descreve essa expansão sensorial e emocional com palavras — e eu tento traduzi-la com o corpo”, explica Clara Carvalho.
Para Magali Biff, as personagens de Clarice “se deixam atravessar por detalhes aparentemente banais, mas que as transformam completamente”. Já Vera Zimmermann ressalta que “os contos têm em comum a presença da alteridade — Clarice sempre confronta suas personagens com o outro, literal ou simbólico, gerando estranhamento e angústia”.
Mariana Muniz, por sua vez, destaca o trabalho processual da montagem: “O texto já trazia indicações de encenação, mas nossas vivências foram incorporadas à cena. Esse é um espetáculo construído a muitas mãos e corpos.”
Uma encenação sensorial e contemporânea
O cenário de Projeto Clarice é simbólico e em constante transformação — os objetos se acumulam e ganham novos significados a cada conto, criando uma ambientação poética entre o real e o imaginário.
A trilha sonora reforça esse universo híbrido: o espetáculo mescla canções de jogos eletrônicos, punk, budots (música eletrônica filipina), Mercedes Sosa e efeitos sonoros experimentais para traduzir o ritmo acelerado e a fragmentação do mundo contemporâneo.
Há também a presença de figuras masculinas mascaradas, interpretadas por Pedro Conrado, Matheus Sabbá e Eneas Leite, que representam uma masculinidade sem rosto, numa referência ao livro A Mulher que Matou os Peixes.
“O espetáculo busca refletir sobre o feminino em uma sociedade onde os casos de feminicídio só aumentam. Queremos gerar identificação nas mulheres e provocar os homens a repensarem sua masculinidade”, conclui Ribeiro.
Projeto Clarice foi contemplado pelo Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, Governo Federal, Ministério da Cultura e Lei Aldir Blanc.
Sinopse
Cinco contos de Clarice Lispector — Via Crucis, Menino a Bico de Pena, A Legião Estrangeira, Amor e O Ovo e a Galinha — ganham forma no palco para discutir temas como identidade, alteridade, família e afeto. Através da direção e adaptação de Cesar Ribeiro, e das atuações de Clara Carvalho, Magali Biff, Mariana Muniz e Vera Zimmermann, o espetáculo reflete sobre a construção do feminino e o estranhamento diante da vida cotidiana.
Serviço
Espetáculo: Projeto Clarice
Direção e adaptação: Cesar Ribeiro
Elenco: Clara Carvalho, Magali Biff, Mariana Muniz e Vera Zimmermann
Datas: 16 de outubro a 9 de novembro de 2025
Horários: Quinta a sábado, às 20h30; domingo, às 19h
Local: Teatro Cacilda Becker – Rua Tito, 295 – Lapa, São Paulo/SP
Ingressos: R$ 20 (Sympla ou bilheteria, aberta uma hora antes)
Duração: 120 minutos
Classificação: 12 anos









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